Thursday, July 3, 2008

Amazônia no meio da selva de pedra



O coração do Brasil está sendo reproduzido numa das cidades mais consumistas do mundo. Nova York é o cenário da exposição Amazônia Brasil, considerado um dos eventos mais importantes sobre a região. O ambiente, os sons, o verde, as cores e a simplicidade do povo está exposta num dos pontos mais bonitos da cidade, à beira do rio Hudson no pier 17. A magia da Amazônia está transportando os visitantes para o interior da floresta. Andar pelo cenário que foi recriado pela própria comunidade é extraordinário. As maquetes foram reproduzidas exatamente como os moradores do local se enxergam. Desta forma é fácil imaginar a grandeza do lugar.
Em sua oitava edição, a mostra é organizada pelo Projeto “Saúde e Alegria” e dirigida pelo brasileiro Eugênio Scannavino Netto. “Sou médico e estou há vinte anos na Amazônia. Apesar de ser infectologista, lá a gente acaba fazendo um pouco de tudo”, diz o ele. O médico conta que queria ser útil, ajudar as pessoas. Queria trabalhar com saúde e não com doença. “Quando cheguei lá vi uma população totalmente excluída, não tinha nenhuma assistência, tinha gente que nunca tinha visto médico na vida. O povo estava morrendo a míngua por causa de diarréia, por causa de coisas simples. Aí eu resolvi ficar e comecei a montar um negócio que reunia educação, prevenção, saúde, alimentação, geração de renda, aí a coisa foi crescendo e eu fui ficando cada vez mais apaixonado pelo lugar”, explica Scannavino.
A exposição quer sensibilizar a população mundial sobre a urgência da conservação da floresta para o futuro do planeta. "Queremos expressar a voz dos brasileiros que vivem na Amazônia, apresentando a região, sua diversidade, potenciais, contradições e a vida nas comunidades locais. Nosso objetivo é mostrar essa visão realista e atual do local e conscientizar os visitantes para as questões da floresta”, afirma o médico.
Logo na entrada os visitantes encontram um mapa gigantesco que eles podem ver exatamente onde a floresta Amazônia está localizada. Em seguida eles assistem aos vídeos que mostram que o rio é o principal meio de vida dos ribeirinhos. É onde as crianças brincam, é também onde a população toma banho, lava roupa e consegue alimentos. Em média 400 crianças visitam a exposicão todos os dias e apesar de muitas delas chegarem procurando a floresta Amazônia no continente africano, elas mostram total interesse em conhecer esse pedaço tão importante do Brasil.
A brasileira Ana Oliveira, que mora em Nova York há 19 anos levou o filho de 4 anos para conhecer a exposição. “Ele nasceu aqui nos EUA e agora que ele está entendendo um pouco mais as coisas eu quero que ele conheça cada dia mais o Brasil. Ele está amando conhecer a Amazônia”, conta Ana. E quando se fala em saudades da terra natal, ela diz que o coração aperta por estar longe e que jamais vai esquecer seu país de origem. “É fantástico ver na maquete o encontro do rio negro com o solimões. As águas não se misturam por causa da densidade. É exatamente assim ao vivo. Mesmo tendo conhecido a floresta Amazônia, eu fiquei impressionada com a riqueza da exposição”, conclui a brasileira.
A mostra é uma excelente oportunidade para os novaiorquinos diminuirem o ritmo de trabalho agitado para dar um passeio pela floresta. Painéis, fotos, sons e diversas instalações recriaram o ambiente único da amazônica, incluindo a sua biodiversidade, povo, vilas e cidades. O visitante mais empolgado ainda pode conferir as exposições no Financial Center, sobre Amazônia Design de Moda e economia sustentável; no Smithsonian's National Museum of American Indian, com a mostra "Guardiões da Floresta", e as oficinas de arte no Central Park. Além disso, o evento está levando para escolas o “New York City Board of Education”. São lições sobre a Amazônia desenvolvidas e incluídas no currículo de terceiro e sexto grau.
As pessoas chegam no local achando que vão ver apenas o que a Amazônia tem de bom, mas quando saem levam o pensamento: “Opa, eu também sou responsável. Eu estou consumindo muito”. Essa é a principal mensagem da exposição, conscientizar o americano sobre o que ele pode fazer para ajudar a salvar o mundo. “Vejo que o americano vem aqui pra ver o quanto o Brasil está destruindo a Amazônia, mas quando eles percebem que o problema da Amazônia é a pressão do consumo global e aqui é o Deus do consumo, cai a ficha e eles ficam muito impressionados. Eles se sentem mal por serem tão consumistas, de gerarem tanto lixo e de desperdiçarem tanta coisa. Então esse reconhecimento pra mim é muito importante. É um aprendizado enorme para eles”, afirma Scannavino. Segundo ele, a humanidade está agindo como criança ao descer de um tobogã. “As pessoas estão sentindo muito prazer, é divertido viver e não se preocupar com o que tem na frente. Mas e lá embaixo? Não vai ter uma piscina esperando por nós. O negócio vai ser bem feio!”, finaliza o médico.
Amazônia Brasil em Nova York é a maior versão internacional da mostra, e já passou pela França (Paris), Suiça (Lausanne) e Alemanha (Bavária), Rio de Janeiro e São Paulo. Após a sua apresentação da cidade americana, a exposição segue para Tóquio, Mônaco e Holanda.

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