Sunday, September 11, 2011

O dia que os americanos nunca esquecerão


*Fotos Mariana Cruso 









11 de setembro de 2001 - Eu morava no Brasil e estava dormindo quando escutei os gritos do meu irmão. “Caramba, um avião acabou de bater em uma das torres do World Trade Center em Nova York”. Sai correndo para ver o que estava acontecendo. Logo em seguida o segundo avião. E ele: “É atentado, é atentado”. Ficamos chocados. Até hoje eu não consigo acreditar quando vejo as imagens. Parece cena de filme de ficção. Achei que todo o horror que vi pela televisão era o suficiente para descrever aquela tragédia. Mas aqui o sentimento é infinitamente pior. Quando cheguei em Nova York uma das primeiras coisas que fiz foi visitar o local onde ficavam as torres gêmeas. Fiquei arrepiada ao chegar lá. Até hoje fico quando passo por perto ou escuto algum relato de parentes que perderam entes queridos. Milhares de fotos, cartas, velas e um cenário de destruição. Segundo relatos, há exatamente 10 anos o dia estava lindo. Céu azul, clima perfeito da primavera novaiorquina.
Entrevistei várias brasileiras que moram em Nova York, bombeiros e americanos que perderam familiares. Li várias revistas com diferentes relatos, assisti quase que diariamente documentários sobre aquele dia que o mundo quer esquecer. É triste ouvir as crianças que não conheceram os pais porque ainda estavam na barriga das mães. A única lembrança que eles têm são fotos e vídeos dos que já se foram. Até o meu marido foi entrevistado por mim. Ele é novaiorquino e foi voluntário ajudando as vítimas. Ele estava de férias quando aconteceu o ataque e decidiu se voluntariar doando sangue. Mas eles já tinham sangue o suficiente estocado e pediram para ele ajudar no transporte. Ele levava comida, transportava os médicos de um lugar para o outro. “Apesar de não terem achado muitas vítimas nos escombros, eles precisam dos médicos no local para cuidar dos que estavam na busca por sobreviventes. No dia do atentado, abriram as pontes após meia noite. Só tinha o meu carro na ponte. Parecia uma cidade fantasma. Nunca vi Nova York tão vazia na minha vida. Passei duas semanas vendo pedaços de corpos, pessoas desesperadas a procura dos parentes com cartazes com fotos. Apesar de tudo que presenciei, não sinto medo. Não acho que haverá outro ataque terrorista desse nível e também não tenho pretensão em me mudar para outra cidade dos Estados Unidos. Não podemos deixar que essa tragédia afete as nossas vidas a ponto de viver com medo”, relata Michael McGovern.
Na manhã daquele dia, a brasileira Christiane Valle por pouco não estava em uma das torres na hora do acidente. “Eu tinha que pagar uma conta lá, mas decidi fazer um café da manhã especial para o meu pai que estava voltando para o Brasil naquela noite. Fui até o supermercado e foi quando vi o que estava acontecendo pela TV. Sai correndo para buscar o meu filho na escola mesmo sabendo que ordem era deixá-lo lá por ser mais seguro. Briguei e consegui tirá-lo de lá. Na volta para casa, ouvimos gritos em forma de coral das muitas pessoas que estavam nos telhados dos prédios e tomamos conhecimento da queda da segunda torre.Estive em algumas vigílias com velas e encontros silenciosos com centenas de pessoas. Olha, tudo foi terrível e triste mesmo. O medo imperava e as pessoas estavam muito perdidas. Era uma energia estranha. Certamente esse episódio marcou minha vida e dos que estavam ao meu lado de forma bastante traumática. Contudo, sou da turma que acha que uma violência não justifica a outra. Acredito que é quebrando-se esse ciclo de violências que caminharemos para a paz. Por isso, não comemorei a morte de Bin Laden. Não acredito em vingança como meio de redenção. MariLiza Backstrom conta que quando chegou ao trabalho que era perto da torres, teve que sair correndo. “Eu estava aqui e vivenciei tudo! Um Horror! Vi a primeira torre desabando na minha frente! Parecia o fim do mundo! Não sabia o que estava acontecendo. Estava sozinha, sem comunicação, sem saber pra onde ir, mas continuava correndo e chorando feito louca com centenas de pessoas. Foi um verdadeiro horror. Mas graças a Deus, conseguir escapar”, diz a brasileira.
A ex-modelo e ex-apresentadora Fabiana Saba Sutton, também estava em Nova York quando tudo aconteceu. “Foi realmente horrível. Eu estava dormindo quando ele me ligou. Ele estava muito nervoso e pediu para que eu ligasse a TV. Ele me disse que viu da janela do escritório um avião bater na torre. Então vi que tinha entrado um avião na torre, mas ninguém sabia o porque. Logo depois entrou o segundo e a ligação foi desconectada. Fiquei desesperada pois não sabia quão perto ele estava, e nem o que estava acontecendo. Fiquei com medo. E se fosse uma guerra? Eu estava no apartamento do meu marido, então namorado, e era no 39th  andar e mesmo sendo no Upper East side dava pra ver a fumaça saindo das Torres. Aliás, por dias se viu aquela nuvem cinza da minha janela. Espero que as famílias das vítimas encontrem paz. “E o que era para nos deixar mais fracos, só nos deu força, pois nos tornou mais humanos”, conta Fabiana. Carol Guedes conta que ao sair de casa tomou um susto. “Todo mundo na rua olhando em uma mesma direção. Quando vi as duas torres já estavam em chamas. Escutei na rua dizendo que tinha sido um avião que bateu na torres. Minha primeira reação foi pensar gente que piloto sem noção. E pior o segundo avião que foi de alguma forma ajudar, também teria se atrapalhado. Mas estando nos EUA, pensei que apesar de tudo em poucos dias eles arrumariam os prédios e tudo estaria bem. Não fazia idéia da dimensão do que estava presenciando. Como uma boa turista sempre estava com a minha máquina, e decidi tirar umas fotos das torres, e foi quando vi pela câmera a primeira torre caindo. Não sabia, mas registrei exatamente o momento da queda. Nesse momento estremeci e pensei: meu Deus o que esta acontecendo? O que estou fazendo aqui? Quando a segunda torre caiu escutei um novo ohhhhh das pessoas na rua sem saber o que estava acontecendo”, afirma.


Relembrando o fato
19 terroristas da Al-Qaeda seqüestraram quatro aviões comerciais. Dois bateram nas torres gêmeas em Nova York. O terceiro atingiu o pentágono em Washington. E a quarta aeronave caiu em um campo na Pensilvânia por causa dos tripulantes que lutaram contra os seqüestradores. Quase três mil pessoas morreram.  A brasileira Sandra Fajardo Smith, que morreu na Torre Norte do World Trade Center durante os ataques do 11 de Setembro de 2001. Juntamente com a mineira de 37 anos, o governo brasileiro reconhece como vítimas dos atentados os paulistanos Ivan Kyrillos Fairbanks Barbosa, de 30 anos, e Anne Marie Sallerin Ferreira, de 29 anos, que eram colegas de trabalho no Banco Cantor Fitzgerald, no 105º andar da Torre Norte. A morte do capixaba Nilton Albuquerque Fernão Cunha não consta na lista oficial do consulado brasileiro nem da prefeitura de Nova York porque, segundo o Itamaraty, a família não enviou amostras de DNA para confirmar sua identidade. Os Estados Unidos responderam aos ataques com o lançamento da Guerra ao Terror: o país invadiu o Afeganistão para derrubar oTaliban, que abrigou os terroristas da Al-Qaeda. Algumas bolsas de valores estadunidenses ficaram fechadas no resto da semana seguinte ao ataque e registraram enormes prejuízos ao reabrir, especialmente nas indústrias aérea e de seguro. O desaparecimento de bilhões de dólares em escritórios destruídos causaram sérios danos à economia de Lower Manhattan, Nova Iorque. Os danos no Pentágono foram reparados em um ano, e o Memorial do Pentágono foi construído ao lado do prédio. O processo de reconstrução foi iniciado no local do World Trade Center. Em 2006, uma nova torre de escritórios foi concluída no local, a  World Trade Center. A torre 1 World Trade Center está em construção no local e, com 541 metros de altura após sua conclusão, em 2013, se tornará um dos edifícios mais altos da América do Norte. Mais três torres foram inicialmente previstas para serem construídas entre 2007 e 2012 no local das antigas Torres Gêmeas. O Memorial Nacional do Voo 93 começou a ser construído 8 de novembro de2009 e a primeira fase de construção é esperada para estar concluída no 10º aniversário dos atentados de 11 de setembro, em 2011. E as novas torres que estão sendo construídas são consideradas os prédios mais seguros dos Estados Unidos.


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